Saturday, April 28, 2007
Friday, April 27, 2007
Shuuu...
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Porque até o silêncio tem de ser ouvido, este sábio que do nada nos pode dizer tanto!
Entre o sonho e a consciência.
Eu não consigo ver a fragilidade escondida por detrás de um falso sorriso de confiança, não sei ainda como destapá-lo, para debaixo encontrar o seu sorriso de porcelana. Distinguir um pedido de ajuda por detrás daquele olhar tão forte, quase assustador de tão bravio e fixo.
Eu senti que querias parar... que estavas farto e cansado de andar atrás de sonhos numa estrada pavimentada por fragmentos de vidro, demasiado cruel para os teus pés descalços... Cortante demais para essa tua alma tão imaculada. E a tua consciência, essa, era o álcool que ardia nas feridas, tentava sarar mas doía demais.
A quimera falava, falava muito alto. Gritava, gritava por ti...
Tu sangravas e não desistias... Tu sangravas e calavas-te... Não partilhavas sequer a dor. Essa que, tão melhor que a utopia, teimava em querer comandar a tua consciência.
Espreitaste-me e viste-me a teu lado nesse percurso.
Viste-me a sangrar também.
(Talvez pela mesma quimera que tu. Aquela que ainda está em flor.)
Thursday, April 26, 2007
O agora fumador.
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(“Ui, que eu já não o vejo faz tempo!”)
Em mim tremelicava aquele alvoroço de criança, queria ver se ele continuava o mesmo, se eu continuava a mesma e se ambos continuávamos na mesma enquanto tagarelávamos.
Lembro-me de brincarmos muito, até mesmo com os olhares, parecia que fazíamos frente um ao outro em determinadas situações. Eu gostava… Sentia-me mesmo bem ao seu lado… Libertava, de todas as vezes, a menina escondida dentro de mim. Ela já não espreita por mim há muito também, por isso é que a ansiedade de o ver era mais que a normal. Queria contactar de novo com o meu lado acriançado.
Sim, lembro-me da sua fisionomia um tanto desajeitada, muito alto e magro. Os seus olhos grandes, e escuros como a noite, que carregavam aquela expressividade toda entre o ingénuo e o franco.
Falávamos de tudo, partilhávamos as peripécias do nosso dia-a-dia e estávamos sempre ali quando um de nós precisava de um abraço… Éramos, sem dúvida, grandes amigos!
Combinamos no café onde a nossa turma se costumava reunir depois de um dia de aulas, o ambiente não mudou muito após estes anos. Quando entrei, dei de caras com um sujeito alto e bem constituído. Pensei, entre segundos “é ele”. Porém algo me deteve, este pegava entre dedos um cigarro: “Não, ele dizia-se incapaz de fumar…”; mas aqueles olhos não mentiam: ”Sim, é ele!”. Aproximei-me e cumprimentei-o. Falou-me calmamente: “Então Sara, o que é feito de ti?” e assim recomeçamos mais uma das nossas infindáveis conversas… Tinha “crescido” e de facto eu também. Os nossos lados acriançados deram mãos sim, mas de forma mais serena, madura. Nós mudamos inevitavelmente com a passagem do tempo, mas permanecemos com a nossa verdadeira essência guardada.
Apagou mais uma última ponta de cigarro e recomeçou a falar após humedecer os lábios. Ouvia-o atentamente… estava encantada! A sua inconfundível maneira de falar, tão precipitada e impaciente, e o seu português mal dominado davam ao seu rosto uma expressão levemente dolorosa. Posso até dizer que as palavras lhe esfolavam os lábios ao passar. Terminava mais uns dizeres e voltava a si, a mesma ternura, aquele seu ar naturalmente afável com que me olhava fixamente.
Sim, posso dizer que não mudou nada… e afinal, nem mesmo eu.
Wednesday, April 25, 2007
Orgulho intragável.
Tuesday, April 24, 2007
Rosa Negra.
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que nasces em meu peito,
Mais perfeita que deusa grega...
Queimas meu coração já desfeito!
Entre as chamas, consumida,
beijo tuas pétalas com fervor.
Espeto teus espinhos, comovida,
e escorrem rubras lágrimas de Amor...
Minha alma porém, não arde,
mantém-se branca, fresca e pura.
Este fogo ardente torna-se cobarde
quando me queima de loucura.
Tu, minha musa, não desfolharás.
Não deixarei tua essência murchar.
A arder em mim continuarás
e este inútil amor...irá perdurar...
Saturday, April 21, 2007
Rodrigo Leão e Cinema Ensemble
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Este é, sem dúvida, um espectáculo a não perder! Bilhetes entre os 20 e os 35 euros.
Os melhores do ano da Rádio Nova Era
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Esta gala organizada pela Rádio Nova Era é já um marco nos espectáculos anuais portuenses. O seu objectivo é premiar e homenagear as melhores músicas e intérpretes da música nacional e internacional.
O espectáculo conta com as actuações de Da Weasel, Buraka Som Sistema, Expensive Soul, Mundo Secreto, Tara Mcdonald, Barbara Tucker, Chris Willis, Gary “Nesta” Pine, Dollarman, Gutto feat. Liliana, Ez Special, Layout e a actuação de Dance for Kids.
Começa às 21h e os bilhetes são a 5 euros.
Friday, April 20, 2007
Fez-me cinema.
Experimentando então, diminuir as horas supérfluas desta dita "noite", levanto-me. O corpo fresco contraria a mente que ainda pede fervorosamente descanso. Em pontas de pés, muito sorrateiramente vasculhei as minhas coisas em busca de fácil distracção, tentando sempre não quebrar o silêncio, esse calado, que embebia o resto da casa. Fui surpreendida com algumas fotografias que me saudaram com um simples abrir de gaveta. Pareciam ser de pessoas que reconhecia, aquelas sãs expressões que sempre deliciavam a objectiva ocular, em cerimónias que brincavam e espevitavam a minha recordação. Espalhei todo o conteúdo no chão e fui separando com as mãos as que mereciam atenção primária. Porém houve uma, uma só, que me captou toda. Nessa, o papel fotográfico estava em branco. Olhei melhor e vi contornos distorcidos, desenhados levemente como que por um bico de lápis. Um cinza mortiço delineava aquilo que pareciam ser as linhas de dois rostos. O silêncio não me estava a deixar concentrar. Era demasiado barulhento! Mais atentamente olhava e menos me parecia revelar. E as fotografias! Essas outras, mortas e sepultadas no soalho de madeira, teimavam berrar quase tão alto quanto o silêncio.
Não reconhecia aquelas faces nem o lugar que como pano de fundo começou a surgir lentamente. Pareciam pinceladas de aguarela aquelas que transformavam o pálido papel numa gravura que impunha agora a saudade… Redescobrira enfim as duas caras, o local, o momento. O trago desta saudade era autêntica sacarose!
Olhei o relógio uma vez mais, este anunciava as ansiadas 7h!
Este silêncio ainda me embalava, mas já sem incómodo, entre sonoridades estridentes e acompanhado pela colectânea de memórias já esquecidas, oferecera-me o som e a imagem em simultâneo.
O silêncio fizera-me cinema.
Tuesday, April 17, 2007
Íman.
Que a minha definição de espaço ficou marcada no pensamento, como no lugar da vítima ficam marcadas a giz as linhas do seu corpo. Foi em riscos de giz, foi em riscos de giz que sublinhei os vértices da imagem do espaço e salientei os seus pormenores. Soprei com afinco as cores pálidas e fúteis e complementei assim a minha tela, antes limitada ao pálido formato monocromático. Era branco, costumava ser, até acrescentar diferentes tons de várias cores para o pintar.
Pintei o espaço agora que já o sabia.
Quantos espaços não ficaram já presos no purgatório das meras imagens? Esses lugares, onde o mais importante, não é o espaço apenas. Ele serve somente de cenário para um acontecimento do qual nunca ou dificilmente esqueceremos. Pois os espaços são apenas a morada da metamorfose dos actos em eventos.Os espaços não são nada sem as pessoas. Sem os processos de memória de quem vive e sente. Sem o tempo para os viver.Como tal, não, não nos abstraímos do espaço, mesmo sabendo que não é ele o fundamental.
E é aí…
Que a definição do tempo surge em mim como uma imposição de esclarecimento.
Tento pintá-lo…
Mas faltam-me filosofias para o desvendar, faltam-me descrições para o definir. Falta-me ainda tempo para o compreender.
Não o consegui pintar… Afinal faltavam-me ainda tantas cores para o conseguir!
Estabeleço o tempo parando-o.
Lembras-te de quantas vezes o tempo parou à nossa volta, e onde passou só a existir o “algo”…? A única movimentação presente era o cortejar dos nossos olhares, o abraçar dos nossos corpos, o delinear dos nossos sorrisos. Eu lembro-me dessa noite. Desse espaço. Desse tempo. Lembro-me de ti. Do nosso “algo” inexplicável, daquele a que intitulamos de “estranho íman”.O “algo” que sempre precisou de um tempo para existir e de um espaço para acontecer… Precisou de ti, de mim, para que guardássemos todos os pormenores na memória.
Contudo esquecemo-nos…
Não sei se preferimos ou se foi apenas o inevitável. Nem sei se este tem sido um breve “esquecer” para mais tarde voltar a perseverar. Só sei que...
O tempo avançou e o espaço mudou.
Mas o sentimento... esse, ficou.
Tragos de escarlates tesouros.
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Como o aroma tão depressa evapora!, sem se despedir a última gota desaparece no fundo de vidro. Agitas o copo vazio... pedes outro.
Como a inércia tão devagar consola!, sem mais demora anseias nova circulação, artérias cheias, a rebentar de vida. Soltas o corpo... este já nada tem.
Eu quero.
Tu queres.
Queremos sangue novo.
Ébano e Marfim.
Ele era tão fiel à pauta dos sentimentos!
Parou, ainda embriagado fechou a tampa do piano e sorriu para mim. Cicatrizado. Tal como me conseguiu deixar.
Um dia também eu vou sentar-me num assento daqueles… e tocar notas em teclas brancas e pretas, tocar muito para além da sensibilidade auditiva de quem conseguir ouvir a minha melodia.
Monday, April 16, 2007
Promessas.
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Promessas… Porque teimamos então fazê-las?! Elas morrem, algumas delas nem chegam a nascer, e para quê?
Quis apenas mostrar-te o mais sublime dos entardeceres… tentei… não queria dizer que te levasse a beijar o Sol comigo!
Quiseste apenas mostrar-me a mais bela das noites… tentaste… mas também não queria dizer que me fizesses sentar na lua, ou trazer comigo uma das estrelas!
Porque são promessas amor… talvez por isso… porque embelezam injustamente as palavras deixando-nos semeados, após a decepção da sua inexecução, pontos de interrogação nas nossas mentes.
Que fazer deles depois? Irão, de certo, atormentar-nos até precisarmos de mentir, para diminuir o poder inabalável das palavras que ficam… dessas promessas… que acabam por morrer.
???????????????????????????
O que fazer deles? No desespero da incerteza que mais tarde ou mais cedo, acaba por matar qualquer sentimento, atamos grossas cordas aos pontos de interrogação e fazemos delas o nosso meio de enforcamento.
Oh, as promessas que foram ditas sem certeza... O impacto delas e da sua beleza. Como nos adocicamos ao sabor daquelas palavras! Como elas nos envenenam!
As promessas que morreram…
As promessas que mataram…
Shuuuu…
Façamos um minuto de silêncio.
Uma última chamada.
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Podem imaginar a cena como a de um filme, pois a multidão urbana estava, depois de despejada das carruagens, calada e imóvel, a imagem à nossa volta estava estática e a preto e branco.
Tu respiravas o meu ar e eu o teu. O frio fazia-o bailar em frente dos nossos olhos em danças brancas e rasgadas. As nossas mãos trémulas e gélidas, como as de um cadáver, davam-se numa espécie de cerimónia sagrada. E só as nossas pulsações, que latejavam em coordenação, acordavam as arestas de um silêncio há já algum tempo adormecido. Os nossos olhares falavam-se e partilhavam o mesmo reflexo de contentamento entre tons escuros de chocolate, enquanto que as consciências atarefadas e confusas se questionavam telepaticamente: será isto apenas um sonho ou o real? Não, não era quimera, a flor que desabrochava em pleno Inverno era a flor de uma despedida. O já desabrochar da saudade. Mesmo antes da partida. Quebrando o gélido silêncio, ecoou uma voz feminina pelas paredes da estação; anunciava as próximas chamadas pelos já gastos altifalantes cobertos de pó.Nem ousámos proferir palavra alguma, fosse ela desencorajar aquele acto já demasiado e suficientemente penoso. Beijamo-nos. Lembro-me daquele toque tímido entre os lábios, não querendo mostrar toda a ansiedade e desassossego. O sabor do beijo... o sabor interminável do beijo... eu não queria deixar os teus lábios agora que os tinha reencontrado, não queria perder a sua suavidade, a sua doçura.
Última chamada…
Tu apressaste-te, decidido, começaste a pegar as tuas pesadas malas, mas nesse mesmo instante voltaste a pousá-las no chão. Aquele impasse era ainda mais angustiante. Demos um último abraço. Eu não queria… as pulsações continuavam numa relação quase incestuosa de tão irmãs que eram! Conseguia soletrar o Adeus quando acariciavas com as pontas dos teus dedos os meus cabelos. Encostaste as tuas mãos frias à minha cara, estremeci com um arrepio. (Esse arrepio aconchegou-me tanto meu bem…) Beijaste-me. Seria o nosso último beijo por muito tempo. Aquele que nos momentos de solidão recordaríamos com melancolia. E este nosso beijo marcava agora a impaciência, a despedida injustiçada que ambos rejeitávamos a todo o custo. Os teus lábios foram provocando, desafiando a paciência da inocência, desafiando-me a ir contigo. Eu comunicava-te, de olhos fechados, em pedidos sem som que não te esquecesses de mim, que me escrevesses o mais breve possível. Tu parecias ouvir, tu parecias responder, e as tuas respostas tranquilizaram-me.
Aquelas tuas mãos abandonaram a minha face e o frio regressou. Sem dizer palavra, olhaste-me uma última vez e subiste carregado para a carruagem número 2. Nesse final de tarde não ouvi a tua voz. Nem tu a minha. Não me olhaste pela janela do comboio, não me acenaste sequer. Preferimos assim. A tua ida foi simplesmente anunciada pelo bruto estremecer dos carris e aí, toda a estação retomou ao seu tumulto comum.
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