Saturday, December 29, 2007

Porto de Abrigo.

Naquela hora as palavras não chegavam… não chegavam para preencher o compassado passar dos minutos. As palavras não carregavam a forma física do amor, nunca a carregaram aliás. Os actos em si também se tornavam insuficientes, pois não haviam sido criados pormenorizadamente para cada feito, mesmo tendo em conta as falhas dos ditos sentimentos. Os sentimentos falharam nos actos portanto, e as palavras, essas, foram esquecidas no tempo: os tais minutos cuja consistência não conseguia manter-se perfeitamente preenchida. O esquecimento em si metamorfoseou-se numa espécie de demência. Essa nova loucura resumira-se em mim pelo facto de que não parara de pensar sobre as palavras, sobre os actos, sobre as pequenas falhas e sobre os momentos que me faziam falta. Sobre o esquecimento que me levara ao desatino… (E assim sucessivamente, porque tudo isto não passava de um ciclo vicioso.) Sobre as horas… As horas que corriam e com elas nada traziam senão a nossa separação. As horas, meu amor, as horas entre nós. Talvez eu própria não me tenha apercebido do círculo em que me encontrara. Eu própria não percebera ainda que a natureza das poucas memórias tuas se havia enfurecido, e assim sendo, a minha mente, alma ou espírito (como lhe queiram chamar) desnorteara-se nos pontos de interrogação… Foram esses que passaram a guiar o meu caminho, a comandar-me. Eles turvaram a realidade. Eu deixara-me então ficar num mundo de sonho, resolvera perder-me por lá. Vivia a minha pseudo-realidade e magoava-me com ela. Que defeituosa e insuficiente ela me era! Era-me pouco ou nada. O que eu realmente precisava não era uma simples utopia mas sim o real. Não era a precipitação, o antecipar de situações, a ansiedade para que tudo desse certo desta vez que eu queria. Os pontos de interrogação, as incertezas e inseguranças, regressavam, regressavam porque começava a gostar. Começava novamente a sentir as palpitações do nosso chamado coração. O buraco que era buraco, porém que se estava a preencher finalmente. Não com as palavras, os actos, ou as promessas, mas simplesmente o sentir. O estar-se vivo e respirar, o estar se vivo e amar. Já não me bastavam as palavras ou actos que porventura escolhesse criar, queria somente podê-las ouvir e observar de um outro prisma, num outro corpo. De uma forma física que não a minha. Tinha de ser algo físico e palpável, necessitava ser corpo, mas ao mesmo tempo tinha de possuir uma alma. Tinha de permanecer em mim, não como uma passagem ou lembrança, não como uma batalha perdida ou um cansaço de luta, mas como uma constante segurança, aquela de quem ama e é amado.

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