Monday, May 14, 2007

Adeus.

“És a filha que eu nunca tive Sara…”

Bem… Penso que isto não se ouve todos os dias. Muito menos quando conhecemos suficientemente bem a pessoa em questão para saber que não lança palavras destas ao ar como quem só procura lançar um banal elogio. Acreditamos, como é lógico e sentimo-nos mais que gratos por… nem sei muito bem porquê! Mas na altura não só acreditei como passei a viver essa realidade. Lembro-me que a abracei com toda a ternura e afecto que tinha dentro de mim e só a larguei dos meus braços quando me senti vazia, lembro-me que não consegui conter uma certa humidade nos olhos quando ela mo disse e sorrira-lhe suavemente. Não estou a vangloriar-me, isso é patético, ainda por cima quando se tratam de autênticos sentimentos (pelo menos da minha parte). Eu passei a gostar ainda mais dela. A sensibilidade é algo que se nota, pode não ser à primeira vista, mas umas horas partilhadas já definem bem esse canto de personalidade de cada um. Pois bem, eu passei mais que “umas horas” com esta mulher, dediquei-lhe toda a atenção quando me falava, dava-lhe todo o meu carinho quando me precisava e cheguei até a sentir uma certa admiração humana por ela. Apesar do seu feitio, muito próprio e nem sempre estável acompanhava-a a muitas saídas, a muitos chás, a muitas conversas. Escrevi-lhe e dediquei-lhe pequenos poemas, pois ela adorava a forma dolorosa como eu escrevia. A vida não lhe tinha sido fácil. E já lhe conhecia o passado quase tão bem quanto o presente, que vivia com ela quase um bocadinho de todos os dias. Confiava nela. Confiava-lhe a minha Mãe. (Não que a minha Mãe seja minha posse, isso é outra coisa que não entendo no dito amor. No amor não existe posse, apenas protecção.) E ambas a ouvíamos, tudo aquilo que dizia e destruía à sua volta sob um manto de ovelha. Queria deixar todos na mesma solidão a que constantemente se submetia, já desde muito cedo. Virava tudo e todos contra ela e depois esperava que se virassem contra nós também… Pena (para ti), pelos vistos não resultou… não foi? Sozinha… Parece que é isso que te resta. Só isso... Não porque preferes o isolamento mas porque todos viram o lobo que és. Tenho de meter na minha cabeça que as palavras não amam. Não nos devemos deixar levar só por elas… Nem sei porque escrevo isto aliás! Porque se tudo foi uma farsa, não só as coisas que dizias e fazias, mas tu própria… Nem te devia dar tanta importância, pois não tia? Assim o farei, fica tranquila.

(Nem raiva, ou lá o que isto ainda é, sentirei mais. Só o desprezo de um esquecimento eterno.)

No comments: