Estiquei-lhe a mão e perguntei-lhe com voz mélica e olhar irresistivelmente persuasor: “Não queres entrar no meu Mundo de Utopia? Vem viver comigo na vida dos meus sonhos. Tenho tanta felicidade planeada, só preciso de ti para a alcançar. Queres?”
Ela deu-me a mão e trocou o sorriso por um leve carregar de sobrancelha, com indignação mas ternura disse-me que também ela tinha um Mundo de Utopia que sempre havia sonhado partilhar. “Não posso ir contigo, tens que vir tu comigo.”
Respirei fundo, tentei acalmar o rasgão que ela havia provocado, a carne viva que deixara predominar no meu lado esquerdo do peito. Larguei-lhe a mão, o meu corpo foi incapaz de ficar paralisado à dor, a reacção que teve foi de repulsa, pelo menos controlei-a na voz. Dissimulei carinho e paciência no meu timbre e voltei a questioná-la: “Como podes saber que o nosso Mundo de Utopia não é o mesmo?”
Ela começou a chorar, com uma certeza tão imperial que moveu nela a maior força que ate ali eu próprio nunca vira em ninguém! Olhou-me com determinação e lágrimas a embaciarem-lhe aqueles olhos de criança-mulher e atingiu-me com as piores agulhas ao dizer: “Porque querido, se esse fosse o mesmo Mundo para ambos, nunca precisaríamos de perguntar, já estaríamos a vivê-lo desde o início.”
Ela secou as lágrimas e virou costas.
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