Porque nem interessavam já as noites mal passadas, recortadas de sonhos e impostas a silêncio e nicotina. Um choro desumano, um inquietante soluçar de criança abafado na almofada, era o meu. As lágrimas custavam a cair, envergonhadas ou simplesmente desaprendidas, porque a verdade é que eu já não sabia muito bem como chorar. Havia desaprendido, é provável que devesse estar mal habituada. Um corpo prestes a ser sugado pelo colchão, a ser engolido em peso bruto, espezinhado de frio em lençóis molhados de suor, era o meu. Agora interessava sim, o que adveio dessas insónias prescritas a marcador pela minha saudade tua. Era a tua ausência, e quando não era a tua ausência, era a tua presença. Eram os nervos, a irritação, a impaciência. Paranóia, dizias-me tu. Isto é paranóia. Pois então que seja. Fumei outro cigarro, pudesse ser que ela acabasse por desistir de mim. Encarnei no cigarro que fumava, queimava-me lentamente e via-me expirar em breves minutos. Sobrava de mim fumo e cinza. O resto… o resto era uma beata morta, esmagada contra o cinzeiro. Enroscava-me até ao pescoço, fechava as pálpebras cansadas. Ontem fechava o peito, para a saudade não o magoar mais. Fechei-o como quem fecha um maço. Satisfeita só até ao próximo desejo.
1 comment:
Bem ao ler este texto fez me lembrar um que escrevi um dia :
Sabes hoje voltei acender o cigarro, fitei o rumo do seu fumo na esperança que ele me mostrasse o caminho onde posso fugir para fora de ti. Sabes estou sem saber o que fazer pois nunca pensei que algum dia fosse sentir a necessidade de descobrir tal caminho. Não o descobri ainda as minhas lágrimas apagaram o cigarro que tanto odeias e não vi para onde se dirigia o seu fumo, apenas me ficaram as cinzas para remexer enquanto te espero mais um dia.
Maldito vicio....o amor.
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