As palavras, mais uma vez, atingiram-me. Todos aqueles meus escudos de previsibilidade e auto-protecção caíram, as palavras apanharam-me desprevenida, como sempre me apanham. Bateram no peito com a força típica das frases imperativas, mas com os sentimentos nos quais adornamos com tanta ternura e afinco os pontos de interrogação. Acho que a um dado momento fiquei demasiado segura de mim mesma, determinada de que seria um estado permanente consequente dos teus actos patentes, que aquelas palavras me haviam tirado o balanço das pernas e a cabeça do ar. Eu, no meu espaço-tempo não encontrei nada para ripostar, não tinha argumentos nem factos que me ajudassem. Mas claro! Como podia eu? Se afinal tinhas tudo tão bem esboçado. Quando me dei conta o meu maxilar já se havia descolado de tal forma a ponto de sentir dor e sangue na boca.
"Eu acho que desta vez, Tu, estás confusa."
Como não encontrei nenhuma frase para me defender dessa, tive que recorrer ás falhas óbvias que a frase dele carregava. O verbo achar torna-se tão vago que eu fui-me defendendo e encostando ás premeditações que tanto fazia tuas e que sempre estavam correctas mais tarde, até que num golpe de mestria e destreza levei com as palavras em cima de mim e fiquei ali deitada no meu pensamento.
"Tu estás confusa."
Uma simples alteração gramatical e de repente todo o panorama me deixou prostada. Ali... incompleta de razões. A segurança que dava a mim própria colapsou e a dúvida gerada pelos teus actos e palavras avançou para exterminar o resto. De repente dei por mim no meio entre o certo e o errado, já sozinha da presença delemas acompanhada pela frase, se a frase estivesse certa eu teria de alterar todas as definições de sentimentos pois estariam erradas, e aí eu admito que o grande defeito meu é confundir a arte de sonhar por algo mais, o que apesar de possivelmente não ser o caso se provou demasiado incriminatório. Mas e se ele estiver errado, será que ele vai descobrir isso também? Se ele estiver errado e a minha confusão tivesse sido singular num caso de modo a que não possa ser generalizada, e não sendo generalizada será que ele vai olhar para mim num caso particular? Desculpa-me querido, mas não posso ter certezas quando as dúvidas são as armas...
Ele pode não estar certo e eu posso finalmente perceber que a carne é fraca e que fala pelo corpo como um só, pode realmente não ter toda a certeza quando eu sei o porquê de eu não estar bem numa vida tão madrasta, num mundo tão impróprio para consumo. Posso ainda sentir mazelas e nódoas negras de lesões antigas (e ele também) e isso deixa-me receosa de viver uma vida que ás vezes não pára para analisar e pensar em todas as pequenas coisas que existem apenas para embelezar a paisagem reinante.
“Eu não teimo, mas raios, sei o que está certo para mim!”
Ele pode estar errado pelo simples facto de eu em tudo o que faço ser acima de tudo verdadeira a mim mesma, e se sou relutante ao magoar um ser vivo, sou incapaz de desentrançar todos os emaranhos de fios que compõe o seu coração. Talvez queira ficar bem, mas desde quando isso passou a ser crime? E talvez goste mais do que aquilo que penso, mas se o faço é apenas com a intenção de o fazer ainda mais! As escolhas são o martelo que esculpe o carácter de uma pessoa. Talvez o que me irei lembrar mais destas últimas semanas é que estas foram doces, intensas, predeterminadas, instáveis, incertas e anti-dogmáticas. Nesta altura nada é certo... e mesmo que eu esteja errada isso não significa que ele esteja certo. E daquele momento de silêncio que acompanhou a minha cabeça entre operações cognitivas e dúvidas existenciais enquanto esta procurava respostas lúcidas, eu acredito piamente que não estou confusa porque senão eu não era nem tão forte nem tão determinada. Acredito também que gosto demasiado facilmente, quando me fascinam com alguma particularidade especial, mas não boemiamente e que isso não retira o mérito ao meu amor e romantismo próprios. No meio da dúvida eu preciso de um som, de uma melodia, de uma voz que me sussurre o que é certo e real. Eu não sei... Mas acredito que tu também não o possas afirmar...
O silêncio morre... E eu, durmo.