“Estou, favo de mel? Precisava muito de falar contigo… tens uns minutos que me possas ceder?”
“Sim, tenho.” Ainda me custa acreditar que ele resolveu telefonar… nem sei se diga ‘tão cedo’ ou ‘finalmente’!
“É que irá decerto demorar mais que uns simples dez minutos.”
“Fala então… Estou a ouvir.” Esperei, calada. Tenho bom ouvido para discursos estudados, isto é, normalmente tenho. Fiquei, contudo, com esperança que ele não tivesse coragem para estragar tudo de novo. Ficou calado também… Será parte do “estudado”…? Raios, tenho de deixar de ser tão desconfiada. Ainda por cima dá-me para o pessimismo! Suspiro e chamo-o.
“Sim, estou aqui. Gosto de ouvir o teu silêncio. É terno.” Pronto, meia-dúzia de palavras bonitas e já me consegue tirar do pessimismo, que sensibilidade irritante esta a minha!
“Já sei que estás a pensar a mil à hora desse lado…”
Rio-me, sem saber muito bem o que dizer. Deixei que a minha suave gargalhada o fizesse crer que havia tido razão. É incrível como apesar de tudo ainda me consegue intimidar.
“Tenho saudades tuas…” Escapa-me, logo de seguida, um “Mas…” abafado. Digo-lhe ou não? É melhor não…
“ E eu tuas. Tinha saudades até de te ouvir rir… Gostava ainda mais de te ver fazê-lo. Continuas a não querer conversar? Ainda precisas do teu espaço? Eu estou aqui ainda, à tua espera durante todo este tempo.”
“Estou a ouvir-te, não estou? Não é ressabiada que estou, apenas um pouco magoada ainda.”
“Sim, mas digo ao vivo, cara-a-cara. Quero ver-te. Quero mostrar-te que não há motivos para estares assim.” Boa! Temia isto… o peito ainda dói… dói tanto. Porém, a verdade é que também lhe quero falar. Ficou tanta coisa por dizer!
“O que queres com tudo isto?” Ai…! Tão directa que até passo por fria. Mania de querer perceber tudo a 101%.
“Bem…”
“É só para esclarecer as coisas, não é?” Bolas, lá fui eu precipitar-me mais uma vez! Maldito orgulho, que até interrompe com medo de ser ferido!
“Sim… quer dizer… se é só isso que queres.”
“Diz-me onde e quando.”
“Isso fica ao teu critério favo de mel. Onde te sentires melhor.”
É sempre tão meigo… não vou aguentar, já o sei à partida. E se depois deixar de doer? E se me sentir melhor? E será que vou acreditar nele? Será até que é verdade o que ele tanto proclama?… Chega de pensar, chegou a altura dos actos.
“Já sei onde podemos ir…”.
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