A rainha deste meu planeta inventado, a guardiã da minha sanidade mental… ou insanidade talvez. Bem, pelo menos da minha sanidade física sou uma tutora capaz. Conservo o corpo intacto, impecavelmente inteiro, harmoniosamente unido; ao contrário da minha cabeça, essa que está aos bocados e se mantém suspensa apenas pela força do meu pescoço. Uma mente despedaçada, assim como o coração, assim como a alma e o espírito… Bah! Mas não dará tudo ao mesmo? Não importa. Importa sim o que esperam de mim neste trono, os feitos consequentes do pedestal onde ingenuamente me colocaram, achando-me capaz de governar… (oxalá o fosse!) Julgavam-me bondosa, merecedora de muito mais que a dor a que até então vinha a colher. Fizeram do chão que piso tapetes vermelhos. Sou da realeza dizem-me… Não, eu sou A realeza! Pois sinto-me a única realeza reinante! Que cegos foram… que cega me deixaram.
Aceno tranquila e arrogantemente, em volta a multidão saúda-me, aplaude-me como se fosse o seu Deus supremo. E que fiz eu? Não importa. O sabor do domínio é doce e eu respondo àqueles olhares de súplica e submissão com uma mirada de altivez, cuspindo beijos hipócritas ao ar acima das suas cabeças. Enquanto caminho sinto-me desfalecer. Ao carregá-lo, o esqueleto curva-se de tão pesado que o meu ego se encontra, o corpo queixa-se e tropeça pela sua dimensão ridiculamente descomunal! As pernas tremem e eu finalmente caio no chão. Respiro o cheiro da alcatifa vermelha e o cheiro não é diferente de um qualquer outro chão. Não cheira a perfume de majestade, a rosas colhidas numa manhã fresca de primavera, ou a uma essência qualquer importada de Paris, mas sim a lama. Um cheiro a podre e humidade que incomodava as minhas narinas imperiais. De nada me adiantou cair em solo soberano.
Disseram-me, com carinho e somente boas intenções, que com o poder eu iria crescer ainda mais! Insaciada pela ambição de um dia vir a ser adulta acreditei. E até aqui, só minguei… Tenho vindo a encolher. A encolher tal como a Alice no seu Pais das Maravilhas. O meu castelo, o fabuloso castelo que me ofereceram, desmorona agora como se feito de um baralho de cartas. Ao mínimo sopro desaba por completo, assim como o meu corpo mirrado, esmagado pela grandeza e robustez do meu ego. Este meu ego tanto cresceu que o reino que me criaram não resistiu. Explodiu. E eu… o que restou de mim, já não me agrada mais.
É assim… É assim que conseguimos matar alguém por amor.
[ you know the way that things go
when what you fight for starts to fall
and in that fuzzy picture
the writing stands out on the wall
so clearly on the wall
send out the signals deep and loud
and in this place, can you reassure me
with a touch, a smile - while the cradle's burning
all the while the world is turning to noise
oh the more that it's surrounding us
the more that it destroys
turn up the signal
wipe out the noise
send out the signal deep and loud
man I'm losing sound and sight
of all those who can tell me wrong from right
when all things beautiful and bright
sink in the night
yet there's still something in my heart
that can find a way
to make a start
to turn up the signal
wipe out the noise
wipe out the noise
wipe out the noise
you know that's it
you know that's it
you know that's it
receive and transmit
receive and transmit
receive and transmit
you know that's it
you know that's it
receive and transmit
you know that's it
you know that's it
receive and transmit ]
Foi assim que me mataste e o silêncio, esse, morreu comigo, num simples acto de companheirismo ou de solidariedade.
Eu era especial e bondosa, havia sofrido sim, talvez por isso merecesse agora muito mais que dor…talvez. Sim, tudo isso era verdade meu bem, mas ter-me-ia contentado com o cargo de princesa.
[Pela primeira e última vez, tudo se tornou barulho.]
Música de Peter Gabriel: signal to noise.
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